domingo, 6 de janeiro de 2013

"Tenha a bondade, meu senhor, de examinar e testar essa bolsa." Enfiou a mão no bolso da casaca e, puxando por dois fortes cordões de couro, tirou um saco de marroquim resistente, de tamanho médio, bem costurado, e entregou-o a mim. Enfiei a mão e tirei de lá dez moedas de ouro, e mais dez, e mais dez, estendi-lhe rapidamente a mão: "Feito! Negócio fechado! Em troca da bolsa, pode levar minha sombra." Ele apertou minha mão, ajoelhou-se resoluto à minha frente e vi como ele, com admirável habilidade, foi desprendendo suavemente minha sombra da relva, começando pela cabeça e indo até os pés; e, por fim, depois de enrolá-la e dobrá-la toda, guardou-a mais uma vez diante de mim e retirou-se indo em direção das roseiras. A mim pareceu tê-lo ouvido rir baixinho, de si para si. Eu, todavia, segurava firmemente a bolsa pelos seus cordões; ao meu redor a terra estava toda ensolarada e eu ainda não tinha noção de nada.

Adelbert von Chamisso, A história maravilhosa de Peter Schlemihl
(trad. Marcus Vinicius Mazzari)


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