terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Mais longe - tudo isso fazia já lembrar um grande pesadelo - deitando uma olhadela ao quadro que indica quantas obras de arte se produzem por minuto e a partir de que material, fui tocado pela insignificância total destes objectos. Se, num futuro afastado, arqueólogos fizessem pesquisas para descobrir formas de estética características de nossa época - digamos no domínio da artes plásticas -, não saberiam nada, porque não estariam à altura de distinguir as gorduras e detritos vulgares das nossas "obras de arte"; entre os dois, muitas vezes não há nenhuma diferença objectiva. Para que uma lata de sopa Campbell seja uma obra de arte, só precisa de ser exposta num museu; mas se ela acaba um dia numa fábrica de transformação de esgotos, ninguém poderá contemplá-la com o contentamento estético do arqueólogo perante o vaso grego ou a deusa em mármore arrancados à terra.

Stanislaw Lem, Um minuto da humanidade
(Trad. Teresa Brito)

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